Sunday, January 21, 2007

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa (1888 - 1935)
in "Poesias", Lisboa, Ática, 1952
(Colecção Poesia)


É um poema muito bonito, de um dos meus poetas preferidos. Espero que gostem.

1 comment:

malicianegra said...

D. Sebastião, o eterno atrasado...
Bom, não aprecio muito Fernando Pessoa, mas escolheste bem o poema.
E sim, a poesia é grande. Mas acho que não pode haver comparação entre ela e as crianças, ou as flores, ou a música, ou o que quer que seja. Cada qual, com as suas diferencas. Nada se pode igualar a nada.


Beijo

Ana