Sunday, January 21, 2007

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa (1888 - 1935)
in "Poesias", Lisboa, Ática, 1952
(Colecção Poesia)


É um poema muito bonito, de um dos meus poetas preferidos. Espero que gostem.

Monday, January 15, 2007

Dez melhores portugueses

A votação dos melhores portugueses chegou ao fim da sua segunda fase. Sinceramente estava à espera de D. Afonso Henriques ou Camões, até mesmo Vasco da Gama ou o Marquês de Pombal, mas quanto a António de Oliveira Salazar sinceramente fiquei espantado. Não muito, mas um pouco. É que já tinha ouvido muitos portugueses falarem bem dessa personagem, ou até mesmo a famosa frase: "Isto precisava era d'um Salazar".

Mas meterem essa personagem entre os 10 melhores portugueses é como darem um prémio de produtividade e organização à Somália. Será que já se esqueceram do Pais agrícola, pobre, pequenino, cinzento e obediente que Salazar construiu? Sim, ele apenas construiu algo que já lá estava. Este nosso fado de sermos sempre pequeninos e pobres de espirito já vem de longe, desde o tempo dos descobrimentos em que mandámos no mundo e depois não o soubémos manter.

Salazar foi um homem que fez muito mal ao nosso Pais e só consigo compreender esta eleição como um descontentamento das pessoas com o estado das coisas.

Mas a culpa é sempre dos outros e nunca de nós próprios, é do governo que rouba ou do patrão que obriga a trabalhar. E lá vai andando o portugues na sua senda de mal-dizer e queixume, queixando-se de tudo, mas sempre sem perceber que ele é o único que pode melhorar a sua vida.

A personagem Salazar está impregnada do mito Sebastianista de que alguém nos virá salvar de tudo, até de nós próprios. Um povo sem memória é um povo sem futuro...

Wednesday, January 10, 2007

Para além de Bem e Mal


Estou a acabar de ler um pequeno livrinho de Nietzsche com o titulo "Para além de Bem e Mal". Dele já tinha lido outros, mas este deve ser o mais complexo. Já estou há um mês e meio completamente absorvido no seu livro.

A força de vontade, o desejo de poder, o ateismo ou a teoria do super-homem são algumas das teorias que gosto mais. A maneira como ele vê a moral (ou neste caso, a imoralidade), é simplesmente fascinante. Neste livro descreve a moral como ela é. Algo relativo e usado em proveito próprio, ou seja, se não for bom para nós, então, não serve. Todos nós somos produtores de valores morais, porque somos seres superiores e não precisamos de ter alguém que nos diga como nos comportar ou que atitudes tomar.

Nietzsche é o filósofo mais actual da sociedade contemporânea individualista em que vivemos.

Viva a revolução indústrial que permitiu uma maior qualidade de vida para muitas mais pessoas, em vez do igualitarismo mediocre da revolução russa em 1917, que instalou o regime comunista castrador e opressivo.

Os homens são profundamente desiguais, ao contrário do que diz o marxismo, e a sua finalidade é superar-se.